quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Auriculoterapia na Obesidade – Parte 1

Podemos dizer que a auriculoterapia constitui um ponto de partida para a integração da medicina tradicional e a ocidental moderna. O microssistema da orelha nos oferece a possibilidade de localizar e utilizar pontos sob o respaldo, tanto da teoria dos zang fu e jing luo, como sob os princípios da fisiologia moderna (Garcia, 1999, p.62).
            É o microssistema mais elegido no tratamento da obesidade atualmente, principalmente pela facilidade de aplicação e efeito sobre o tratamento da ansiedade que consequentemente repercute no apetite compulsivo. Entretanto pouco se sabe da eficácia do tratamento sobre a obesidade como um todo, como uma síndrome que é, e também há grande divergência de seleção de pontos que também tem a ver com a divergência do diagnóstico correto das causas da obesidade sob o ponto de vista da MTC. Torna-se fundamental encontrar antes de tudo um consenso entre muitos autores sobre diagnósticos e tratamentos para a partir daí tratar eficazmente e aperfeiçoar o tratamento da obesidade e suas causas pela auriculoterapia.
1 – Etiologia da obesidade
            A medicina ocidental considera que a obesidade é uma síndrome e por isso tem um conjunto de fatores, suas causas podem ser genética, neuroendócrinas, familiares, comportamentais (dieta, sedentarismo), fisiológicas (puberdade, gestação, menopausa, retardo do crescimento, “efeito sanfona”, etc.) e psicopatológicas (depressão, ansiedade, transtornos alimentares e da auto-imagem, baixa auto-estima, etc.) (ABESO, 2007, disponível na internet, vide bibliografia).
            A obesidade é vista na MTC além de ser decorrente da polifagia, é geralmente causada por retenção umidade-fleuma retida entre pele e músculos, ligada a deficiência do qi do baço-pâncreas e/ou do Yang do rim (MACIOCIA, 2006, p. 259 e 595). Segundo Xiaofeng (1997, p. 55-56), existem 7 diferenciações de síndromes principais, sendo do tipo estômago exuberante, tipo obstrução interna de fleuma, tipo calor no Intestino e constipação, tipo Yang, tipo alcoólico, tipo deficiência de baço e tipo obesidade pós parto. Botsaris (1998, p. 110), defende que a obesidade deve-se ao acúmulo de fleuma endógena, que pode combinar com frio ou calor, obstruindo o fluxo de qi. Além do aspecto energético-fisiológico, a MTC leva sempre em consideração as emoções, e como foi citado, é uma parte relevante na síndrome da obesidade. Fialho (2010) considera que a obesidade (fei pang pela MTC) é devida a duas causas distintas, fleuma e umidade acumulados internamente ou vacuidade do baço-pâncreas e sugere os seguintes pontos: BP9, BP6, E36, E40, VC10, VC9 e; BP20, B23, VC6, E36, BP6 respectivamente.
2- Conceito de obesidade Yin e Yang na MTC
            No aspecto psicofísico, Curvo (1998, p. 52), a obesidade pode se dividir em Yin e Yang. Uma pessoa gorda de natureza predominantemente Yin, engorda pela lentidão e resfriamento de seus processos metabólicos podendo ou não ter uma insuficiência hormonal. Estes indivíduos possuem digestão lenta por diminuição da função de transporte e transformação dos alimentos. Há uma tendência à formação de varizes, pela diminuição de energia Yang em seus músculos, inclusive dos que compõem as paredes dos vasos. Podem comer freqüentemente devido à depressão ou ao tédio, estão mais propensos a ganhar peso, pois a deficiência de Yang resulta na debilidade das funções de transformação e transporte do baço, assim como no acúmulo de fleuma. Outro fato importante é que estes indivíduos preferem menores quantidades de bebidas, porém mais quentes, pois a deficiência de Yang está associada ao frio e a umidade. A gordura é de distribuição ginecóide, ou seja, mais concentrada nas coxas, culotes e glúteos. Língua: aumentada, apresentando marcas de dentes nas bordas, com saburra fina, branca e úmida. Pulso: lento, escorregadio, é sentido mais na profundidade do que na superfície.
            Uma pessoa gorda de natureza predominantemente Yang, engorda pelo excesso de absorção de todas as formas de energia que a ela chegam, aliado a um aquecimento de todos os processos metabólicos, construtores de tecidos. As pessoas deste grupo estão propensas a hiperatividade física, mental, sexual, à irritabilidade pré-menstrual e a ter calor na menopausa. O excesso se faz também no hábito de superalimentação. Os músculos são grandes e fortes, os depósitos de gordura são importantes e o tecido ósseo mostra um esqueleto de conformação larga e bem desenvolvida. O tipo Yang tende ficar com fome mais freqüentemente e se não for saciada, poderá ter sensações de irritabilidade, agitação motora ou dores de cabeça. Com relação aos líquidos, estes indivíduos tendem a beber maiores quantidades de bebidas mais frias, pois a deficiência de Yin está associada com o calor e a secura. A distribuição da gordura se faz do tipo andróide. Com suas características de excesso de calor e energia, apresenta respiração forte, voz alta, humor e emoções exaltadas, sudorese abundante, pele quente, face corada, pressão arterial tendendo a alta. Língua: bordas e ponta avermelhadas, freqüentemente recoberta por uma saburra amarelada. Pulso: superficial, amplo e rápido. Em resumo as condições mais associadas na tabela 1:
Tabela 1 – Diferenças fundamentais entre obesidade Yin e Yang
OBESIDADE TIPO YIN OBESIDADE TIPO YANG
Metabolismo lento Metabolismo frequentemente alto
Obesidade ginóide Obesidade andróide
Pés e mãos frias, também abaixo do umbigo Sensação de calor, transpira bastante, sobretudo na cabeça e nas costas
Rosto pálido ou amarelado Face avermelhada, tendência a acumular sangue no pescoço e rosto
Preguiça, cansaço Ativo, dinâmico
Pode apresentar pouco apetite ou normal Polifágico
Despertam com vontade de comer doce ou café com leite Predileção por bebidas alcoólicas, churrasco, embutidos, temperos forte
Celulite, varizes, edema de membros inferiores e palpebral, cabelos e unhas frágeis, tumores frios, colite irritativa, constipação intestinal por diminuição do peristaltismo ou diarréia Cistites, faringite, sinusite, amidalite, hipertensão arterial, morte súbita, constipação intestinal por ressecamento.
Percentual de gordura alto e musculatura pequena Músculos normais ou fortes
Tristes, magoados, depressivos. Baixa libido Expansíveis, sociáveis, as vezes irritados. Sexualmente ativos
 3- Princípios da auriculoterapia
            A técnica remonta de milênios e não somente da China antiga, há relatos de tratamento através de estimulação do pavilhão auditivo pelos antigos egípcios e gregos também (SOUZA, 2001, p. 27). Curiosamente, apesar de esta ciência ter sido mais estudada na China antiga, foi o neurologista francês Paul Nogier na década de 50 que retomou o interesse pela auriculoterapia no mundo com o desenvolvimento de novos pontos terapêutico e formulando a teoria de que havia uma relação entre os pontos da orelha e a posição de um feto invertido e seus órgãos e regiões anatômicas correspondentes (GARCIA, 1999, p. 15). A partir daí diversos trabalhos, principalmente na China expandiu em muito o uso deste microssistema como meio de diagnóstico e tratamento validado em torno de 150 patologias (GARCIA, 1999, p. 25). Em 1991 a professora Huang Li Chun editou em Pequim um dos tratados mais importantes de auriculoterapia publicados na China intitulado Tratado sobre o Diagnóstico e Tratamento Através dos Pontos Auriculares apresentando um dos mapas auriculares mais reconhecidos (Fig. 1). 
3.1 Diagnóstico pelo pavilhão auricular
            Além do diagnóstico pela anamnese clínica, pelo pulso e pela língua, é possível realizar através da observação de modificações do aspecto geral da orelha revelando desequilíbrios e processos patológicos já instalados:
            a) Modificações de pigmentação:
            – palidez: Indica deficiência orgânica, diminuição de atividade ou paralisação das funções orgânicas, ou processo degenerativos. O procedimento nesses casos é a tonificação dos pontos auriculares. 
            – eritema: indica hiperatividade funcional, processo de desequilíbrio por hiperfunção. Deve-se aplicar estímulo de sedação.
            – manchas senis ou condensação de melanina: indica a incidência de problemas crônicos. A prescrição é a tonificação da área reflexional atingida.
            b) Modificações morfológicas:
            – ressecamento da pele: indica enfermidade de natureza crônica, exigindo estímulo de tonificação
            – exsudação sebácea: indica enfermidade de natureza sub-aguda, usa-se estímulo de sedação.
            – sudorese: indica tendências a doenças degenerativas. Tonifica-se estes pontos.
            – quistos e tubérculos: são sinais de patologia aguda que está ocorrendo ou irá ocorrer em órgãos a que esses pontos se referem. No caso da existência da enfermidade deve-se fazer sedação nesses pontos, Não havendo sintomas, tonifica-se os pontos.
            – pêlos e escamações: indica o primeiro caso, degeneração senil e o segundo, enfermidade crônica. Tonifica-se nos dois casos.
            c) Modificações de sensibilidade:
            – hiperestesia, indicativa de enfermidades agudas ou subagudas. Recomenda-se sedar.
            – hipoestesia: indica enfermidade crônica, a conduta recomendada é a tonificação.

Nenhum comentário:

Postar um comentário