É o microssistema mais elegido no tratamento da obesidade atualmente, principalmente pela facilidade de aplicação e efeito sobre o tratamento da ansiedade que consequentemente repercute no apetite compulsivo. Entretanto pouco se sabe da eficácia do tratamento sobre a obesidade como um todo, como uma síndrome que é, e também há grande divergência de seleção de pontos que também tem a ver com a divergência do diagnóstico correto das causas da obesidade sob o ponto de vista da MTC. Torna-se fundamental encontrar antes de tudo um consenso entre muitos autores sobre diagnósticos e tratamentos para a partir daí tratar eficazmente e aperfeiçoar o tratamento da obesidade e suas causas pela auriculoterapia.
1 – Etiologia da obesidade
A medicina ocidental considera que a obesidade é uma síndrome e por isso tem um conjunto de fatores, suas causas podem ser genética, neuroendócrinas, familiares, comportamentais (dieta, sedentarismo), fisiológicas (puberdade, gestação, menopausa, retardo do crescimento, “efeito sanfona”, etc.) e psicopatológicas (depressão, ansiedade, transtornos alimentares e da auto-imagem, baixa auto-estima, etc.) (ABESO, 2007, disponível na internet, vide bibliografia).
A obesidade é vista na MTC além de ser decorrente da polifagia, é geralmente causada por retenção umidade-fleuma retida entre pele e músculos, ligada a deficiência do qi do baço-pâncreas e/ou do Yang do rim (MACIOCIA, 2006, p. 259 e 595). Segundo Xiaofeng (1997, p. 55-56), existem 7 diferenciações de síndromes principais, sendo do tipo estômago exuberante, tipo obstrução interna de fleuma, tipo calor no Intestino e constipação, tipo Yang, tipo alcoólico, tipo deficiência de baço e tipo obesidade pós parto. Botsaris (1998, p. 110), defende que a obesidade deve-se ao acúmulo de fleuma endógena, que pode combinar com frio ou calor, obstruindo o fluxo de qi. Além do aspecto energético-fisiológico, a MTC leva sempre em consideração as emoções, e como foi citado, é uma parte relevante na síndrome da obesidade. Fialho (2010) considera que a obesidade (fei pang pela MTC) é devida a duas causas distintas, fleuma e umidade acumulados internamente ou vacuidade do baço-pâncreas e sugere os seguintes pontos: BP9, BP6, E36, E40, VC10, VC9 e; BP20, B23, VC6, E36, BP6 respectivamente.
2- Conceito de obesidade Yin e Yang na MTC
No aspecto psicofísico, Curvo (1998, p. 52), a obesidade pode se dividir em Yin e Yang. Uma pessoa gorda de natureza predominantemente Yin, engorda pela lentidão e resfriamento de seus processos metabólicos podendo ou não ter uma insuficiência hormonal. Estes indivíduos possuem digestão lenta por diminuição da função de transporte e transformação dos alimentos. Há uma tendência à formação de varizes, pela diminuição de energia Yang em seus músculos, inclusive dos que compõem as paredes dos vasos. Podem comer freqüentemente devido à depressão ou ao tédio, estão mais propensos a ganhar peso, pois a deficiência de Yang resulta na debilidade das funções de transformação e transporte do baço, assim como no acúmulo de fleuma. Outro fato importante é que estes indivíduos preferem menores quantidades de bebidas, porém mais quentes, pois a deficiência de Yang está associada ao frio e a umidade. A gordura é de distribuição ginecóide, ou seja, mais concentrada nas coxas, culotes e glúteos. Língua: aumentada, apresentando marcas de dentes nas bordas, com saburra fina, branca e úmida. Pulso: lento, escorregadio, é sentido mais na profundidade do que na superfície.
Uma pessoa gorda de natureza predominantemente Yang, engorda pelo excesso de absorção de todas as formas de energia que a ela chegam, aliado a um aquecimento de todos os processos metabólicos, construtores de tecidos. As pessoas deste grupo estão propensas a hiperatividade física, mental, sexual, à irritabilidade pré-menstrual e a ter calor na menopausa. O excesso se faz também no hábito de superalimentação. Os músculos são grandes e fortes, os depósitos de gordura são importantes e o tecido ósseo mostra um esqueleto de conformação larga e bem desenvolvida. O tipo Yang tende ficar com fome mais freqüentemente e se não for saciada, poderá ter sensações de irritabilidade, agitação motora ou dores de cabeça. Com relação aos líquidos, estes indivíduos tendem a beber maiores quantidades de bebidas mais frias, pois a deficiência de Yin está associada com o calor e a secura. A distribuição da gordura se faz do tipo andróide. Com suas características de excesso de calor e energia, apresenta respiração forte, voz alta, humor e emoções exaltadas, sudorese abundante, pele quente, face corada, pressão arterial tendendo a alta. Língua: bordas e ponta avermelhadas, freqüentemente recoberta por uma saburra amarelada. Pulso: superficial, amplo e rápido. Em resumo as condições mais associadas na tabela 1:
Tabela 1 – Diferenças fundamentais entre obesidade Yin e Yang
OBESIDADE TIPO YIN | OBESIDADE TIPO YANG |
Metabolismo lento | Metabolismo frequentemente alto |
Obesidade ginóide | Obesidade andróide |
Pés e mãos frias, também abaixo do umbigo | Sensação de calor, transpira bastante, sobretudo na cabeça e nas costas |
Rosto pálido ou amarelado | Face avermelhada, tendência a acumular sangue no pescoço e rosto |
Preguiça, cansaço | Ativo, dinâmico |
Pode apresentar pouco apetite ou normal | Polifágico |
Despertam com vontade de comer doce ou café com leite | Predileção por bebidas alcoólicas, churrasco, embutidos, temperos forte |
Celulite, varizes, edema de membros inferiores e palpebral, cabelos e unhas frágeis, tumores frios, colite irritativa, constipação intestinal por diminuição do peristaltismo ou diarréia | Cistites, faringite, sinusite, amidalite, hipertensão arterial, morte súbita, constipação intestinal por ressecamento. |
Percentual de gordura alto e musculatura pequena | Músculos normais ou fortes |
Tristes, magoados, depressivos. Baixa libido | Expansíveis, sociáveis, as vezes irritados. Sexualmente ativos |
A técnica remonta de milênios e não somente da China antiga, há relatos de tratamento através de estimulação do pavilhão auditivo pelos antigos egípcios e gregos também (SOUZA, 2001, p. 27). Curiosamente, apesar de esta ciência ter sido mais estudada na China antiga, foi o neurologista francês Paul Nogier na década de 50 que retomou o interesse pela auriculoterapia no mundo com o desenvolvimento de novos pontos terapêutico e formulando a teoria de que havia uma relação entre os pontos da orelha e a posição de um feto invertido e seus órgãos e regiões anatômicas correspondentes (GARCIA, 1999, p. 15). A partir daí diversos trabalhos, principalmente na China expandiu em muito o uso deste microssistema como meio de diagnóstico e tratamento validado em torno de 150 patologias (GARCIA, 1999, p. 25). Em 1991 a professora Huang Li Chun editou em Pequim um dos tratados mais importantes de auriculoterapia publicados na China intitulado Tratado sobre o Diagnóstico e Tratamento Através dos Pontos Auriculares apresentando um dos mapas auriculares mais reconhecidos (Fig. 1).
3.1 Diagnóstico pelo pavilhão auricular
Além do diagnóstico pela anamnese clínica, pelo pulso e pela língua, é possível realizar através da observação de modificações do aspecto geral da orelha revelando desequilíbrios e processos patológicos já instalados:
a) Modificações de pigmentação:
– palidez: Indica deficiência orgânica, diminuição de atividade ou paralisação das funções orgânicas, ou processo degenerativos. O procedimento nesses casos é a tonificação dos pontos auriculares.
– eritema: indica hiperatividade funcional, processo de desequilíbrio por hiperfunção. Deve-se aplicar estímulo de sedação.
– manchas senis ou condensação de melanina: indica a incidência de problemas crônicos. A prescrição é a tonificação da área reflexional atingida.
b) Modificações morfológicas:
– ressecamento da pele: indica enfermidade de natureza crônica, exigindo estímulo de tonificação
– exsudação sebácea: indica enfermidade de natureza sub-aguda, usa-se estímulo de sedação.
– sudorese: indica tendências a doenças degenerativas. Tonifica-se estes pontos.
– quistos e tubérculos: são sinais de patologia aguda que está ocorrendo ou irá ocorrer em órgãos a que esses pontos se referem. No caso da existência da enfermidade deve-se fazer sedação nesses pontos, Não havendo sintomas, tonifica-se os pontos.
– pêlos e escamações: indica o primeiro caso, degeneração senil e o segundo, enfermidade crônica. Tonifica-se nos dois casos.
c) Modificações de sensibilidade:
– hiperestesia, indicativa de enfermidades agudas ou subagudas. Recomenda-se sedar.
– hipoestesia: indica enfermidade crônica, a conduta recomendada é a tonificação.
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